MARANHÃO DE 66
O PIGMEU DE PYANGYONG E O GIGANTE MARANHENSE
Kim Jong-Il, apresento-lhe José Sarney. José Sarney, apresento-lhe Kim Jong-Il.
Se Arnaldo Carrilho, o embaixador brasileiro na Coreia do Norte, cumprir a promessa de presentear Kim Jong-Il com os DVDs de Glauber Rocha, finalmente ocorrerá o encontro entre o "pigmeu de Pyangyong" - o apelido dado por George W. Bush - e o gigante maranhense.
Glauber Rocha fez um documentário sobre a posse de José Sarney no governo do Maranhão, em 1966. Título? Maranhão 66. O documentário reproduzia integralmente o discurso de posse de José Sarney, intercalando-o com cenas de miséria dos maranhenses. José Sarney, no palanque, proclamava: "O Maranhão não suportava o contraste de suas terras férteis, de seus vales úmidos, de seus babaçuais ondulantes e de suas fabulosas riquezas potenciais com a miséria, com a angústia, com a fome". Enquanto isso, na tela, Glauber Rocha exibia imagens de miséria, de angústia e de fome, reiterando didaticamente o discurso eleitoreiro de José Sarney.
Os glauberianos sempre argumentaram que, ao contrapor o discurso de posse de José Sarney às imagens de miséria, Glauber Rocha, na realidade, pretendia denunciar as falsas promessas do governador recém-eleito. Mentira. Maranhão 66 é pura propaganda política. Ele foi encomendado a Glauber Rocha pelo próprio José Sarney, sendo financiado pelo governo estadual. A rigor, aliás, quem o financiou foram os mesmos miseráveis mostrados no filme. José Sarney, eleito com o apoio do marechal Castelo Branco, contou também com o apoio do marketeiro baiano Glauber Rocha, predecessor daquele outro marketeiro baiano, Duda Mendonça. Maranhão 66 está para Glauber Rocha assim como a conta Dusseldorf está para Duda Mendonça.
Luiz Gutemberg, hagiógrafo de José Sarney, comentou o trabalho da seguinte maneira: "O filme concentra as esperanças que nasciam dos casebres, dos hospitais e, no meio de tudo, a voz de Sarney. Glauber, modificando a ciclagem da voz do novo governador, obteve um efeito emocionante e fez com que ela soasse como a voz de um vulto profético, fixando o choque entre o impossível, que a mensagem de esperança do novo governador anunciava, e a miséria que as imagens mostravam".
José Sarney ridicularizou a idéia de que Glauber Rocha pudesse ter qualquer propósito crítico, apresentando-o como um apaniguado cúmplice e obediente. Ele disse: "Quando fui eleito governador, o levei para fazer o documentário da posse. Ele se empolgou e fez. Eu também ajudei porque fiz, de certo modo, o roteiro do documentário, para fugirmos daquela coisa, para ver o contraste entre o que se encontrava e o que a gente desejava. E ele fez".
Maranhão 66 foi produzido por Luiz Carlos Barreto. E quem mais poderia ser? Atualmente, Luiz Carlos Barreto produz uma cinebiografia de Lula. Pena que Glauber Rocha tenha morrido, porque ele certamente se empolgaria com o projeto e o dirigiria. Seu filho, Erik Rocha, já dirigiu um documentário empolgado sobre Lula. De Maranhão 66 a Brasília 09, a política continua igual. E o cinema brasileiro continua igual: empolga-se e faz.
Fonte: http://veja.abril.com.br/idade/podcasts/mainardi/integra_040609.html
MINHA OPINIÃO:
Repito: O filme "Maranhão 66" foi uma encomenda de José Sarney, ex-presidente da República, que acabava de ser eleito governador do Estado do Maranhão, e desejava que seu amigo Glauber Rocha produzisse um documentário sobre a cerimônia de sua posse. Isso se dá dois anos depois da tomada de poder dos militares, a franqueza do filme é total e anuncia o tom de “Terra em Transe”. Não se encontra no curta-metragem o mínimo de complacência para com o político que encomendou a obra. Ao contrário, o filme é construído como um verdadeiro desafio às promessas eleitorais demagógicas: enquanto o político se compromete solenemente a acabar com as misérias da região, elas são simplesmente mostradas, com uma terrível crueza, em imagens documentais (casas miseráveis, hospitais infectos, vítimas da fome, tuberculose...).
Alternando-se com as imagens do discurso em terrível oposição entre a retórica e a realidade, mas igualmente apontando a necessidade urgente de transformar as palavras em ações para promover o progresso social.
Depois de ver e ler o que expus acima, concluo:
TUDO CONTINUA NA MESMA. NOSSO PAÍS É O MESMO, NOSSOS POLÍTICOS SÃO OS MESMOS, CLARO QUE ESTERIOTIPADOS PELO SENADOR JOSÉ SARNEY. NOSSA MISÉRIA É A MESMA. E NOSSA ESPERANÇA SERÁ QUE CONTINUA A MESMA?
FIQUE DE OLHO!!!
Estamos realmente perdidos.
ResponderExcluirAbraços.
Não se pode negar que o jovem governador Sarney tinha visão crítica aguçada e sabia, já naquele tempo, o valor das imagens no processo de convencimento das massas.Ali estava o embrião da rede de comunicação que sua competência midiática montou.Mas e o compromisso com a transformação do caos social em que vivia a gente maranhense em 66? Bem, os dados falam por si: em 2009, 64% da população maranhense ainda vive abaixo da linha da miséria.Neste cenário, é possível falar-se em cidadãos e cidadãs como realidade ou somente como meta? De quem é a responsabilidade? Da ausência dos valores republicanos na lógica de gestão da coisa pública.Do compromisso maior com a palavra e menor com o gerenciamento focado na eficiência e eficácia dos resultados. O que fazer então? Aceitar que o Todo Poderoso lá de cima(DEUS) é contra os que se insurgem por acreditarem que sabem fazer um caminho que poderá levar a um resultado diferente? Não é possível acreditar nisso, ou teria que aceitar que não nascemos todos com o direito a ter oportunidades iguais.Assim,aos que foram lesados em seus direitos, só resta manter a dignidade.Este é o pilar que dará suporte ao compromisso com trabalho intenso, contínuo e perseverante. É o pilar que manterá o humor fortalecido pela esperança de que um dia tudo poderá ser diferente.
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