NÃO ME ESPANTARÁ QUE NUM FUTURO PRÓXIMO O MARANHÃO VENHA A SER CHAMADO DE “UGANDA BRASILEIRA”
Por Zeca Baleiro
Última palavra (IstoÉ, nº 2035, 1º abr/2009)
O Maranhão é um Estado do Meio Norte brasileiro, um preciosismo para nomear a região geograficamente multifacetada que é ponto de interseção entre o Nordeste e a Amazônia. Com área de 330 mil km2, pleno de riquezas naturais, tem fartas agricultura e pecuária, uma culinária rica e diversa e uma cultura popular exuberante. Não obstante tudo isso, pesquisa recente coloca o Estado como o segundo pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do País, atrás apenas de Alagoas.
Sou maranhense. Nasci em São Luís, capital do Estado, no ano de 1966, mesmo ano em que o emergente político José Sarney assumiu o governo estadual, sucedendo o reinado soberano do senador Vitorino Freire, tenente pernambucano que se tornou cacique político do Maranhão, a dominar a cena estadual por quase 40 anos. De 1966 até os dias de hoje, são outros 40 anos de domínio político no feudo do Maranhão, este urdido pelo senador eleito pelo Amapá José Sarney e seus correligionários, sucedâneos e súditos, que gerou um império cujo sólido (e sórdido) alicerce é o clientelismo político, sustentado pela cultura de funcionalismo público e currais eleitorais do interior, onde o analfabetismo é alarmante.
O senador José Sarney, recém-empossado presidente do Senado em um jogo de caras barganhas políticas, parecia ter saído da cena política regional para dar lugar a ares mais democráticos, depois de amargar a derrota da filha Roseana na última eleição ao governo do Estado para o pedetista Jackson Lago. Mas eis que volta, por meio de manobras politicamente engenhosas e juridicamente questionáveis, para não dizer suspeitas, orquestrando a cassação do governador eleito, sob a acusação de crime eleitoral, conduzindo a filha outra vez ao trono de seu império. Suprema ironia, uma vez que paira sobre seus triunfos políticos a eterna desconfiança de manipulações eleitoreiras (a propósito, entre os muitos significados da palavra maranhão no dicionário há este: “mentira engenhosa”).
Em recente entrevista, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disparou frase cruel: “NÃO VAMOS TRANSFORMAR O BRASIL NUM GRANDE MARANHÃO.” A frase, de efeito, aludia a uma provável política de troca de favores praticada pelo Planalto atualmente – segundo acusação do ex-presidente -, baseada em jogo de interesses regionais tacanhos e tráfico de influências. Como alguém nascido no Maranhão, e que torce para que o Estado alcance um lugar digno na história do País (potencial para isso não lhe falta, afinal!), lamento o comentário de FHC, mas entendo a sua ironia, pois o Maranhão tornou-se, infelizmente, ao longo dos tempos, um emblema do que de pior existe na política brasileira. Não é de admirar que divida o ranking dos “piores” com Alagoas, outro Estado dominado por conhecidas dinastias familiares.
Em seus tempos de apogeu literário, São Luís, a capital do Maranhão, tornou-se conhecida como a “Atenas brasileira”. Mais recentemente, pela reputação de cidade amante do reggae, ganhou a alcunha de “Jamaica brasileira”. Não me espantará que num futuro próximo o Maranhão venha a ser chamado de “Uganda brasileira” ou “Haiti brasileiro”. A semelhança com o quadro de absoluta miséria social a que dois célebres ditadores levaram estes países – além do apaixonado apego ao poder, claro – talvez justificasse os epítetos.
*Zeca Baleiro é cantor é compositor
PALAVRA DA VELHA:
Apesar do lapso temporal da publicação do texto, é triste constatar que as coisas continuam iguais e sem perspectiva de mudança.
Estamos há 3 dias para as eleições que elegerão os novos Presidente, Governador, Senadores, Deputados Federais e Estaduais e vemos que nosso maior oligarca continua entre os mais poderosos do país, participando ativamente de todas as decisões importantes para a sociedade.
Após tantas denúncias sem as devidas investigações e conclusões e tantos escândalos envolvendo membros da família mais conhecida do Maranhão, percebemos que a atual Governadora, candidata à reeleição ainda lidera as pesquisas de intenção de votos.
Neste caso paro para pensar e imagino que não devemos acreditar em tais pesquisas, já que sempre é noticiado que as mesmas são tendenciosas e favoráveis à quem as contrata. Independente de tal fato outro questionamento me incomoda: no Maranhão é sabido que quem ocupa o Palácio dos Leões nunca perde uma eleição, ou seja, está com a máquina pública, ganhou a eleição.
Voltando ao texto: meu conterrâneo Zeca Baleiro, que traz tanto orgulho à nossa terra através de seu talento, só escancara aquilo que todo maranhense conhece bem e hoje posso assegurar que todo brasileiro tem conhecimento.
O que me deixa paralisada é o fato de que, apesar de termos conhecimento das manobras realizadas pelo grupo oligárquico para manter-se no poder do Estado, com práticas que caracterizam o famoso "abuso de poder político e econômico" (que causou a cassação do Governador eleito nas urnas Jackson Lago, sem que ficasse comprovado o uso do tal poder, já que o mesmo não detinha este poder "político/econômico), sem que nada os atinja.
Exemplifico: dia 28/09/2010 na Av. Ferreira Goulart, na Ilhinha, enquanto militantes da Coligação "O Povo é Maior" se preparava para iniciar uma passeata pelo bairro, atravessa a avenida um veículo (tipo trio elétrico - que tem sua utilização proibida pela legislação eleitoral) da Coligação "O Maranhão Não Pode Parar" da candidata Roseana Sarney, trazendo várias pessoas em cima, portando bandeiras e cantarolando as músicas da candidata. Para maior espanto dos ali presentes, o referido carro vinha acompanhado de dois veículos da polícia estadual, uma motocicleta e uma patrulha fazendo a escolta do mesmo (acompanhe no vídeo abaixo).
Agora me perguntem: O que fizeram? No que deu isso? Alguém tomou alguma providência? A resposta é NÃO meus amigos. Aqui o povo já não denuncia mais estes atos, pois todos sabem que não resultam em nada. Os processos movidos contra membros e afilhados da família Sarney jamais são julgados ou concluídos, daí a descrença do povo em denunciar seus crimes.
Aí vem o TSE, STF, TCE, TCU e mais outras tantas siglas, falar em transparência, ficha limpa, fiscalização, penalidade, etc... Balela, só balela. Na prática só são julgados, penalizados e massacrados aqueles que contrariam ou ameaçam a segurança da oligarquia.
Então, pensando como o querido Zeca Baleiro, não me espantará que num futuro próximo o Maranhão venha a ser chamado de “Uganda brasileira” ou “Haiti brasileiro”
FIQUE DE OLHO!!!